quinta-feira, dezembro 29, 2005

A PENSAR MORREU UM BURRO

Era uma vez um burro que caminhava pelo deserto. O animal ía cambaleante cheio de fome e cheio de sede. Ou melhor será dizer, vazio de tudo.
Depois de dias e noites de caminhada e padecimentos, deparou com dois baldes; um de aveia e outro de água.
Estacou surpreendido sem saber por onde começar, se pel' aveia, se pela água...
Morreu...

quarta-feira, dezembro 28, 2005

ANTÍPODAS

Percorridas milhas de pedra rochosa cinzenta clara silenciosa, desceram caminhos fofos de sal que despertaram a dor ácida do sangue exposto.
Junto do mar, aliviaram a dor; os corpos, levados pelas ondas, derreteram.
Sobrado o tútano, conduziram-se crentes aos antípodas, prontos para ressuscitar entregues à Moira que detestam.

No Olimpo vigilante jogam-se dados...

segunda-feira, dezembro 26, 2005

NA TUA PELE

Vesti a tua pele e adormecemos juntos sobre a areia quente do deserto, ao fim do dia.
A noite gelou os corações que ficaram parados e esqueceram os corpos que se deixaram flutuar nas dunas mobilizadas pelo sopro forte do vento soalheiro.
Ao pino do meio dia, ficaram cadáveres em carne viva e acordaram a mil milhas de distância um do outro.

domingo, dezembro 18, 2005

ESPIRRO SOLAR

No deserto silencioso de pulsares frios e gelados o Sol segue o seu queimar perpétuo, aparência humana de eternidade, envolvido por uma aragem que por vezes lhe provoca arrepios.

Desta vez espirra. Rebentam-se-lhe os tímpanos, desintegra-se e fica reduzido a um fogacho solto pela língua infernosa.

A pequena bola de fogo lança-se qual foguetão ziguezagueante...
Perdida, embate na Terra, passa a estratosfera, rasga uma linha luminosa na australásia, risca o pôr do sol no meio atântico e com ciência e precisão chega ao continente onde o vinho tansborda a música arranha e o fogo de artíficio confunde as mentes incautas...

A nossa bola de fogo, reduzida a uma faísca ígnea, segue serena e agora plana... até se confundir num estalar de foguetes e fogo preso na madrugada de uma terra perdida na rudeza da montanha.
Insinua-se por uma janela aberta ao calor estival e encontra um coto frio, usadíssimo, de pavio preto, mascarado de pseuda-apolínea sabedoria.

Devolve-lhe vida dionisíaca..., e a vela começa a queimar,
queima, queima
e a cera derrete
e a vela queima e vai acabando
acaba mas não apaga
vai queimando
passa o tampo espesso da mesa de madeira
fura o chão duro e frio de pedra mármore suja
e em baixo encontra água
apagou-se!

?

sexta-feira, dezembro 09, 2005

TEMPOS PARALELOS

Quando dois tempos paralelos se tocam é o instante da eternidade a anunciar o amor.
Quando dois tempos paralelos se afastam é a vontade patológica que se impõe.
Quando dois tempos paralelos se coincidem é o sublime livre arbítrio imposto à vontade do Olimpo.

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