quarta-feira, outubro 25, 2006

Zig zag territoire

aguaceiros de limpeza solar imaculada
varrem com ondas de riachos
as ruas tortuosas do caleidoscópio da sístole árabe
a sábia narrativa revelada de cuore

terça-feira, outubro 24, 2006

O amor é gratuito e amar uma mulher fútil,
se bem que tenha o seu encanto,
é desperdiçar um bem infinito vivido
na escassa efemeridade do tempo

segunda-feira, outubro 23, 2006

Passar à frente

Há mais alegria e verdade
se nos deixarmos ficar aqui,
no lugar da nossa presença
a descobrirmos as pausas da cidade.

É possível encontrar sinais de deus na cidade
Isso acontece quando nos espantamos

Numa sala de teatro
onde dom juan seduz a distração
na completa ausência de engenho e arte
não se encontra o espanto

"theo"

Mas se nos livrarmos daquele palco mal frequentado
ainda podemos subir ao miradouro
e ver
isso mesmo
ouro

Continuando a ser óbvio
direi que fui ver aquela aldeia feita cidade
Lisboa não pode ser fotografada
Lisboa é para ser mirada, namorada
e repetirmo-nos nela
como estas palavras meladas de monotonia

A única pausa desta cidade
é da outra banda vê-la ao longe
e, quanto mais longe, mais bela.

Mas a ironia também foi convidada
e trouxe com ela a vaidade e o infortúnio,
embora ninguém esperasse o bando

Passou-se de banda e ao largo nos pusémos
ficando a meditar nas notas do deus sinaleiro

gostamos de acreditar que a pausa é a
coincidência
feita presença

puro engano se nela virmos o pretérito

Desçamos então pela face lúdica noética,
e no ethos descubramos theos,
instante ígneo que faz do presente
o original futuro!

quinta-feira, outubro 19, 2006

Contrapasso


Dois passos passaram
em passeio

numa suave soirée lisboeta

íam ligeiros os passos,

passo a passo,
num silêncio cúmplice de esperança

um mais atento
e lacónico
outro mais despreocupado
e loquaz
um mais presente
outro mais ausente

e neste desencontro da passada

tropeçaram


eram apenas dois passos passageiros

quarta-feira, outubro 18, 2006

Belly button

há umbigos que crescem, crescem, crescem
até reflectirem o brilho narcísico,

concha fechada sem vista para o outro

e assim nesse mundo de brinquedos e certezas pueris
a desatenção embacia mais a visão translúcida,

encruzilhada para a entrega lúdica
ou da queda no ego cego

sexta-feira, outubro 13, 2006

A Carlota é uma gata preta.

Toda preta...

como toda a gataria
faz incursões no espaço
à medida da distância que vai da roda de um carro
ao ninho de pêlos do canto lá de casa.

tem olhos de vidro mágico
que perturbam a credulidade supersticiosa,

e daí nascem os prejuízos das certezas dotadas de presciência,
constroem-se discursos de palavras rebuscadas ao fundo da opinião,

e a cidade acolhe estas vidas de ruína em ruína.

terça-feira, outubro 10, 2006

FRENTE FRIA


A previsão diz que vai chover
mas para hoje também previram chuva
e o Sol queimava

Amanhã... levantei-me e fui nadar
bati pernas até o coração rebentar
mas o povo está sereno, o povo está sereno

no mar da praia da mata
rebaptizei-me no gelo salgado
buli com as ondas
e voei imerso, dono da liberdade

chutei a areia em almofada
e numa cama vermelha o bronze aqueceu-me o corpo

Deram chuva para hoje
mas o Sol queimava,

ao longe adivinhava-se o espichel
qual proa marítima virada ao mundo novo

embora envolta em neblina adocicada
não era nada mais que uma parede especulada

frente fria [en]sonsa!

segunda-feira, outubro 09, 2006

PLÁGIO CITADO (à descarada)



É preciso
criar palavras, sons, palavras vivas,
obscuras terríveis.
- Ouves os gritos dos mortos?

É preciso matar os mortos,
outra vez,
os mortos.

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
... fora existe mundo...
- E o poema faz-se contra a carne e o tempo.

- meus pensamentos criam-se
com um outrora lento...

Toco o peso da tua vida: a carne que fulge, o sorriso,
a inspiração.

Ninguém se aproxima de ninguém se não for por um murmúrio
Ficas toda perfurmada de passar por baixo do vento que vem

Importemo-nos apenas com o lugar onde estamos.
Há beleza bastante em estar aqui e não noutra parte qualquer.




copiado de herberto helder e alberto caeiro

sexta-feira, outubro 06, 2006

NOTAS DE CHÁ


Do chiado à tua porta
caminhámos ruas desertas.

o ar estava limpo e leve...

galgámos o lavra.

- tão lindo!
era aquela fiada de candeeiros reluzentes
degraus acima
enraizados na calçada branca
na diagonal da subida

nos bancos de jardim, repousámo-nos

Continuámos
desenhando um arco de passos
onde ninguém ficou cego

Ignorámos as superstições médicas do campo santana,
seguimos dos mártires à estefânia

Ignorámos as avenidas e calcorreámos histórias
aconchegados nas ruas interiores

Pelos espelhos das montras,
mirámos puxadores de portas especuladas,
mas não abertas.

Fomos do chiado à tua porta

e a noite cerrou-se,
igual a todas,
antes do dia nascer

segunda-feira, outubro 02, 2006

VERDES NA CASA BRANCA


A Verdade Inconveniente é o instrumento eleitoral do próximo candidato democrático à Casa Branca americana.
A responsabilidade americana no aquecimento global é a verdade inconveniente da qual ninguém fala, ou seja, não está no topo da agenda dos media mundiais (leia-se CNN e Al-Jazeara).


Al Gore, a Caminho de Washington


O antigo próximo presidente dos Estados Unidos pontua este documentário de denúncia das consequências imprevisíveis, mas nesfastas, do aumento da emissão de dióxido carbono para a atmosfera, com pormenores da sua biografia familiar, académica e política. Todas elas são relacionadas com a militância ecológica que Al Gore assume para as plateias do cinema mundial, depois de mais de mil conferências por todos os EUA, e cidades de todo o Planeta.

Al Gore interrompeu a caminhada de delfim de Bill Clinton a presidente quando uma fraude eleitoral deferida pelo Supreme Court o travou.

Al Gore relembra que aceitou resignado a decisão do tribunal e que concluiu da lição continuar a fazer o melhor que pudesse.

O dióxido de carbono presente na atmosfera atingiu hoje, e com previsões para os próximos 50 anos, uma concentração superior a qualquer outra Era verificada, nos últimos 650 mil anos. Este período é lido nos glaciares da Antártida. A bolhas de ar que ficam dentro do gelo ao longo do tempo contêm os niveis de concentração de CO2 e dali se estabelece o gráfico de evolução dessa concentração e das temperaturas que a acompanham.
A norte, a Gronelândia, e a sul, a Antártida, representam a maior ameaça de degelo provocado pelo aumento das temperaturas em todo o Globo. E a previsão é de 6 metros de subida do nível das águas do mar.
Na Europa, a Holanda desaparecia.


Salvem a Rã

A ser verdade, então andamos todos muito distraídos.
O espectáculo que Al Gore apresenta exibe uma animação onde uma rã foge de um tacho com água a ferver, mas dentro de uma panela com água a aquecer, ela deixa-se ficar até cozer. Logo, é precise que algém a salve. A conclusão é óbvia, a humanidade precisa de um mentor que a acorde para a Acção Política, Comunitária e Individual.

“A vontade política é um recurso renovável em Washington”, e também a pedra de toque da inversão tecnológica da Acção Humana, no planeta. Estamos a caminho do abismo mas ainda é possível apaziguar os elementos com o recurso à tecnologia eficiente, o mesmo é dizer limpa, renovável, compatível com a manutenção da Natureza que suporta a Vida Humana.
É preciso denunciar, argumentar e agir. É a proposta de Al Gore.

Áparte o terrorismo do pós 11 de Setembro, é necessário lembrar outras questões, como o Protocolo de Quioto, ainda não ratificado pelos EUA e pela Austrália, por exemplo. Os americanos são o accionista maior da empresa de libertação de CO2, com 30% da nuvem global.
Al Gore faz a denúncia do que se passa e apresenta o que é necessário, mas não diz como vai fazer. Com certeza, começando por ratificar o Tratado já assumido por dezenas de cidades americanas.

Se pensarmos sobre o estado em que estará a vida internacional quando chegar ao poder, talvez fosse melhor pensar que estamos a entrar num período de gestão de fim de mandato de GWB.

A nossa fronteira é o Espaço Exterior, e é essa referência que pode dar coesão ao convívio da humanidade para arredar do palco internacional a produção da guerra. A expansão para o Espaço, é a expansão do Conhecimento, e nela se deverá concentrar a humanidade, quando se ocupa da vivência quotidiana, em toda a sua diversidade estética.
A escolha ecológica é difusora de uma visão comunitária do planeta. E se for essa a bandeira do presidente Gore, então a manchete pode ser Verdes na Casa Branca.


O Resto da Verdade Inconveniente

O que fazer com a América Latina, África, Ásia, Oceânia e Europa.
O planeta, verde ou azul, depende da eleição do próximo presidente e da sua política externa e interna.
Mas este é apenas um entre pares, e tem de agir com essa convicção e exigência, daí que a política americana tenha de sofrer uma transformação estrutural accionada por acções conjunturais diferentes das actuais.

E o mesmo se exige das restantes potências. Esta persuasão não resulta através da indústria energética da política da guerra. Cada vez mais o clima do planeta se encarrega de fazer as vezes do pombo-correio no anúncio desse erro ao Hemisfério Norte.

Dito assim até parece uma coisa etérea. Mas com a pressão demográfica a transferir-se do Sul para a Europa, como acontece com Espanha e restante Continente, quando Manhatan e países como o Bangladesh e cidades como Xangai submergirem, e as grandes metrópoles começarem a sentir um défice na qualidade de vida e na tranquilidade a que estavam habituadas, então aí talvez a rã salte, se não estiver já irremediavelmente cozida.

Falta no discurso de Al Gore a referência explícita à vontade de integrar pela eliminação da pobreza e ver aqui um elemento primordial na alteração do comportamento humano no usufruto do planeta Terra.

Conclúi-se, que a rã não está apenas distraída; a indigência e o aquecimento global estão ligados, este como efeito daquela.

Ora, a pobreza generalizada, em maior ou menor grau, resulta da organização política e económica geridas de acordo com a potencialização do luxo de viver com todo o Poder segundo um plano de valores do Indivíduo distraído dos outros e concentrado em si. Esta visão fragmentada, esquecida do outro, legitima-se na clausura introspectiva em que a afirmação dos interesses individuais se alinham pela inércia do autismo social, pelo medo da partilha do futuro, pela aceitação acrítica da herança inexplicada da tradição (para quê mudar se posso perder!), em suma, pelo afastamento do risco da transformação do actual estado de coisas, seja qual for a fatia da pirâmide de castas que ocupemos.

http://www.climatecrisis.net/

This page is powered by Blogger. Isn't yours?