quinta-feira, maio 25, 2006
Aberração
És um cancro,
os teus dentes brancos
escondem a cárie dos teus neurónios
Ao pé de ti
uma porta debita números primos
as paredes
albergam tratados de ciência futura
os cães declamam poesia árabe
e as pedras, (coitadas das pedras),
as pedras transpiram inteligência metafísica
As tuas mãos são uma aberração enrugada
do proxenetismo das tuas palavras
A tua saliva 605 forte
é fonte ígnea do teu orgasmo virgem
O teu cabelo cheira a Schwartzkopf
nauseabundo
como a brisa de Auschwitz
És uma gralha do destino,
epigno serôdio da raça humana!
És um cancro,
os teus dentes brancos
escondem a cárie dos teus neurónios
Ao pé de ti
uma porta debita números primos
as paredes
albergam tratados de ciência futura
os cães declamam poesia árabe
e as pedras, (coitadas das pedras),
as pedras transpiram inteligência metafísica
As tuas mãos são uma aberração enrugada
do proxenetismo das tuas palavras
A tua saliva 605 forte
é fonte ígnea do teu orgasmo virgem
O teu cabelo cheira a Schwartzkopf
nauseabundo
como a brisa de Auschwitz
És uma gralha do destino,
epigno serôdio da raça humana!
quinta-feira, maio 18, 2006
Arco da Torre
À travessa do Arco da Torre
está sentado um velho pesado
num banco de pedra corrido
de olhos cerrados
e olheiras fundas, escuras, largas...
Naquela rua a dois passos do Tejo
o velho dormita despreocupado
à sombra da morte próxima
ao som do ronronar das rodas
dos carros velozes na rua de pedras negras
Estamos numa tarde de Maio, quente, sonolenta...
os velhos pesam o tempo
os miúdos voltam da escola
os escritórios esvaziam-se
O dia respira fundo, finalmente.
as águas separam-se
a maré tranquiliza-se
a esperança renova-se
___________________________________________________
À travessa do Arco da Torre
está sentado um velho pesado
num banco de pedra corrido
de olhos cerrados
e olheiras fundas, escuras, largas...
Naquela rua a dois passos do Tejo
o velho dormita despreocupado
à sombra da morte próxima
ao som do ronronar das rodas
dos carros velozes na rua de pedras negras
Estamos numa tarde de Maio, quente, sonolenta...
os velhos pesam o tempo
os miúdos voltam da escola
os escritórios esvaziam-se
O dia respira fundo, finalmente.
as águas separam-se
a maré tranquiliza-se
a esperança renova-se
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Status Quo Anti Belli
Colhemos a caruma seca
lançada ao chão entretecida pelo vento,
quebrámos ramos secos e juntámos um fósforo
A chama cresceu e evaporou-se
nas asas licenciosas de Prometeu
As brasas estalaram castanhas
mastigadas com apetite
Os gatos juntaram-se à volta do borralho
até a cinza leve ser dispersa
ficou nada.
Colhemos a caruma seca
lançada ao chão entretecida pelo vento,
quebrámos ramos secos e juntámos um fósforo
A chama cresceu e evaporou-se
nas asas licenciosas de Prometeu
As brasas estalaram castanhas
mastigadas com apetite
Os gatos juntaram-se à volta do borralho
até a cinza leve ser dispersa
ficou nada.
sexta-feira, maio 12, 2006
LENÇOL
Se eu tivesse um lençol imaculado de inteligência
para resguardar os meus pecados
proclamava-me Papa metrosexual
Abria um sorriso largo de branco falso
embarretava uma peruca loura
seria capa da Vogue
e assinava fariseu
Com a voz do pato Donald reunia tropas na esplanada dondocas
distribuía relógios do rato Mickey
e fazia da mentira compulsiva a bíblia dos tolos
Comia favas até soltar brisas pombalinas
soprava trompetes apocalípticas
e trincava laranjas
Se eu tivesse um lençol imaculado de inteligência
mijava-lhe em cima e não pagava impostos,
guardava o dinheiro para assar carcaças de gnus
regurgitados por corcodilos de pança abarrotada
Se eu tivesse um lençol imaculado de inteligência
catava-lhe a pintelheira e tecia uma trança
para te enforcar
Esfolava-te a carne
e dela fazia creme de pasteleiro,
doce invólucro de castanhas assadas
pelas brasas dos teus ossos carbonizados
Por fim,
(sim, por fim, já chega)
gregoriava-te até à bilís
na mortalha do lençol imaculado de inteligência
e lançava-te na vala comum.
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Se eu tivesse um lençol imaculado de inteligência
para resguardar os meus pecados
proclamava-me Papa metrosexual
Abria um sorriso largo de branco falso
embarretava uma peruca loura
seria capa da Vogue
e assinava fariseu
Com a voz do pato Donald reunia tropas na esplanada dondocas
distribuía relógios do rato Mickey
e fazia da mentira compulsiva a bíblia dos tolos
Comia favas até soltar brisas pombalinas
soprava trompetes apocalípticas
e trincava laranjas
Se eu tivesse um lençol imaculado de inteligência
mijava-lhe em cima e não pagava impostos,
guardava o dinheiro para assar carcaças de gnus
regurgitados por corcodilos de pança abarrotada
Se eu tivesse um lençol imaculado de inteligência
catava-lhe a pintelheira e tecia uma trança
para te enforcar
Esfolava-te a carne
e dela fazia creme de pasteleiro,
doce invólucro de castanhas assadas
pelas brasas dos teus ossos carbonizados
Por fim,
(sim, por fim, já chega)
gregoriava-te até à bilís
na mortalha do lençol imaculado de inteligência
e lançava-te na vala comum.
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SINAIS DE DEUS - verdade sem método
A planta do pé, apesar de endurecida,
procura caminhos viçosos
onde experimente a frescura molhada
que o mar lançou madrugada dentro
Os espinhos ordinários
que de quando em quando se cravam
ajudam a apressar o passo,
e lembram que a erva fofa
partilha os seus domínios
com notas de vigília
A palma da mão, macia,
marca o compasso de equilíbrio do tronco,
e livre,
recolhe o sopro do vento despreocupado.
Ansiosa do toque, harpeia finos caules que riscam o horizonte
Um tufo azul pingado de brilho colou-se-lhe aos nós dos dedos,
e quando coloriu o resto do corpo em banhos de damasco suculento,
descobriu a verdade da estrada marcada pela desilusão da promessa.
Já o Sol ía alto quando secado o paúl,
revelou-se nauseabundo o lodo pegajoso
da mentira compulsiva, impoluta de escrúpulo
A insistência do erro
trabalha a soma de ingredientes imberbes de tolice
ao critério impugnado,
deferido pelo ninho de mioleira plasticina,
imaturo dom da graça promíscua
A planta do pé, apesar de endurecida,
procura caminhos viçosos
onde experimente a frescura molhada
que o mar lançou madrugada dentro
Os espinhos ordinários
que de quando em quando se cravam
ajudam a apressar o passo,
e lembram que a erva fofa
partilha os seus domínios
com notas de vigília
A palma da mão, macia,
marca o compasso de equilíbrio do tronco,
e livre,
recolhe o sopro do vento despreocupado.
Ansiosa do toque, harpeia finos caules que riscam o horizonte
Um tufo azul pingado de brilho colou-se-lhe aos nós dos dedos,
e quando coloriu o resto do corpo em banhos de damasco suculento,
descobriu a verdade da estrada marcada pela desilusão da promessa.
Já o Sol ía alto quando secado o paúl,
revelou-se nauseabundo o lodo pegajoso
da mentira compulsiva, impoluta de escrúpulo
A insistência do erro
trabalha a soma de ingredientes imberbes de tolice
ao critério impugnado,
deferido pelo ninho de mioleira plasticina,
imaturo dom da graça promíscua