sexta-feira, setembro 09, 2005

AMOR SEM SAL

My Summer of Love retrata uma paixão adolescente entre duas raparigas, no cenário provinciano inglês de um vale de Yorkshire.

Mona guia uma motoreta sem motor, vive num pub com o irmão regressado da prisão e acaba de ser despachada pelo amante, o cantor dandy lá do burgo.

Tamsin, de férias do colégio interno, monta a cavalo, e está sozinha com o pai, normalmente ausente na casa da amante.

Mona e Tamsin conhecem-se por acaso, iniciam uma amizade e rapidamente tornam-se amantes. Mona, habituada ao sarro do pub e 'passada' com o irmão que regressa um fervoroso cristão, encontra na nova amiga um conforto de casa de bonecas, atenção e divertimento garantido.

Pelo meio de muitos cigarros e álcool, Pawel Pawlikowski (o realizador) não quer deixar de mostrar que estudou filosofia e na boca de Tamsin cita a batida martelada nietzscheana que “Deus morreu”. A citação soa a dislate porque é feita num contexto que recusa por completo o sentimento religioso. Pois, se Deus está morto é porque nem de lanterna ao meio dia na cidade o encontramos, mesmo que as ruas estejam cheias de gente.

Deus aparece no filme a propósito do tal irmão de Mona, que por sinal se chama Lisa. Convertido à pressa, Phil despeja pelo ralo as garrafas do bar e entrega-se à construção de uma cruz de 10 metros de altura para colocar no monte sobranceiro à aldeia. Lá no pub, de nome Swan, reúne um grupo de desocupados e com eles passa o dia em oração delirante. À primeira oportunidade tenta seduzir a namorada da irmã, ao bom estilo de padreco manhoso, mas a coisa sai-lhe gorada.

As duas miúdas vão aproveitando o Verão para se divertirem com muitas bebedeiras à mistura e doce sexo. Tamsin, a amiga filha do pai que estaciona o Jaguar à porta da casa da secretária, revela-se uma mentirosa compulsiva e convence Mona de que a irmã morreu anoréctica. Dá-lhe roupas, trocam beijos e juras de amor.

Por fim, as férias de Verão acabam, a irmã ‘morta’ aparece e exige as roupas de volta. Tamsin confessa que tava só a ‘curtir’, que não foi por mal, e que ‘tá’ na hora de voltar para a escolinha. Lisa, a Mona, rapariga do campo de sentimentos genuínos, percebe que andou a fazer figura de parva... num primeiro arrufo ainfa faz uma amona à amante manipuladora mas desiste de a afogar. Esquece o assunto e segue a sua vida, literalmente, a sua estrada...

“Amor de Verão” é um filme que se agarra a meia dúzia de ideias agradáveis a intelectuais de imprensa espumosa e universitários encostados. Junta duas garotas desfloradas pelo doce ilusório Sol de Verão do instante adolescente, prova um pouco do delírio das seitas chãs, goza de um fugaz voyerismo do executivo adúltero, cita um filósofo conhecido por ser desconhecido, e acaba como todas as férias de Verão – soube a pouco, mas desta vez sensabor!


Texto publicado no Culturweb a 9 de Setembro de 2005

Comments:
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