quinta-feira, novembro 24, 2005

MERGULHO

Um, dois, três e salto de chamada... Lanço-me no ar em plena queda livre, plano o vento rumo ao chão duro. O ar quente passa-me pelas orelhas e faz aquele ruído de motor de avião a roncar ao longe.

As luzes dos carros lá em baixo dizem-me que o dia já fechou. Os olhos fecham-se em lágrimas empurradas pela força da pressão da deslocação.
O burburinho da cidade cresce para um murmúrio cada vez mais estridente, sem nexo.

O alcatrão negro aproxima-se, mas está ali um carro... arranca e deixa-me livre um espaço.

Consegui manter uma posição vertical e os braços abertos esticados juntam-se agora para baixo, por cima da cabeça.

Mergulho no pavimento.
Os braços desintegram-se. Os ombros desconchavados rasgam o tronco até à anca e riscam faíscas pelas pernas até aos pés.
Liberta-se um ruído chiado de guilhotina. O estalo da lâmina fria solta por fim a cabeça imulada numa bola de fogo.

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