segunda-feira, maio 12, 2008
Cartas A Uma Ditadura

"Orgulhosa do que fui e do que sou"
O documentário de Inês Medeiros pode deixar-nos deprimidos pelo Portugal que nos mostra e pela reacção patega manifestada por algum público presente.
O documentário de Inês Medeiros pode deixar-nos deprimidos pelo Portugal que nos mostra e pela reacção patega manifestada por algum público presente.
Mas é preferível abandonar a sala do Londres com uma extraordinária saudade do futuro e agir já.
A realizadora peca por não interpelar as entrevistadas para além da exposição passiva de questões avulsas.
Porém, deixa espaço para a revelação da beleza de Belmira Monteiro.
Dos testemunhos recolhidos pela realizadora, Belmira é a única mulher não anulada por Salazar.
Nascida em 1919, deixa um testemunho de sacrifício, força de vontade e dedicação aos netos.
Apresenta-se nas suas palavras como simples costureira, trabalhadora de noite e de dia, que por os pais não terem tido as posses para que estudasse não foi além da quarta classe.
Ciente da sua força de conquista, afirma convicta que podia ter sido alguém.
Mas não fui, lamenta-nos.
Vive hoje na casa humilde que fora de seus pais, fez a quarta classe que passou aos netos, que sustentou deixando-os agora formados para o País.
E olhando o seu percurso, pode no crepúsculo da sua vida lúcida e simples dizer-se "Orgulhosa do que fui e do que sou".
Confessa sem constrangimento a ignorância sobre o que é a ditadura, a democracia e a liberdade. Mas ainda nos diz que a liberdade é poder comprar um quilo de arroz, e tudo o mais que for necessário.
A liberdade pode ser mais do que isso, mas com certeza que não é caridade.
Dos testemunhos recolhidos pela realizadora, Belmira é a única mulher não anulada por Salazar.
Nascida em 1919, deixa um testemunho de sacrifício, força de vontade e dedicação aos netos.
Apresenta-se nas suas palavras como simples costureira, trabalhadora de noite e de dia, que por os pais não terem tido as posses para que estudasse não foi além da quarta classe.
Ciente da sua força de conquista, afirma convicta que podia ter sido alguém.
Mas não fui, lamenta-nos.
Vive hoje na casa humilde que fora de seus pais, fez a quarta classe que passou aos netos, que sustentou deixando-os agora formados para o País.
E olhando o seu percurso, pode no crepúsculo da sua vida lúcida e simples dizer-se "Orgulhosa do que fui e do que sou".
Confessa sem constrangimento a ignorância sobre o que é a ditadura, a democracia e a liberdade. Mas ainda nos diz que a liberdade é poder comprar um quilo de arroz, e tudo o mais que for necessário.
A liberdade pode ser mais do que isso, mas com certeza que não é caridade.
Assim, perante a depressão macrocéfala de um país demasiado pequeno para a obesidade que ostenta, escolhemos, como a Senhora Belmira Monteiro, recusar o discurso inerte e furar caminhos, cumprindo a nossa saudade do futuro.