terça-feira, outubro 28, 2008

Síndrome do Pontapear

Portugal precisa de uma ideia? Ou melhor, precisa de um conceito?
Sim, um conceito estratégico, é sobre isso que se pergunta.

Talvez não. Talvez não precise de um conceito, um conceito é uma coisa demasiado básica.
Então, voltamos ao início.
Precisa, isso sim, de uma Ideia.
De uma Ideia Reguladora.

Uma Ideia de Mundo.
Uma Ideia do que quer fazer do seu Mundo.
E o Mundo Português vai do Minho a Timor.

E perante estas palavras, pf, não me chutem para canto, ou melhor, não caiam já naquele tique atávico da síndrome de autodefesa de pontapear para o canto dos rótulos.

Neste caso, diriam rapidamente... "então este gajo está para aqui a falar de mundo português e mai nâ sei kê, do minho a timor, este filho da mãe não passa de mais um salazarista serôdio, fascista de merda...", etc., etc.

Para mais, dizer salazarista serôdio é uma espécie de pleonasmo conceptual, mas enfim, deixemo-nos de deambulações pedantes.

Mas sobre a tal Ideia para Portugal, poderia dizer que há dias peguei no boletim de voto e fiz a cruz na CDU, um eufemismo linguístico para PCP. Passadas umas semanas fiz a mesma cruz no quadradinho do BE. Porque não? Foi um contributo convicto para abrir espaço a mais um partido tribunício, mas um contributo imune de qualquer credulidade.

Uns meses depois, votámos desertos de credulidade ou convicção construtiva num eunuco, debitador de discursos molengos e inodores, e, por fim, apenas portadores da obrigação cívica, achámos que o Presidente de todos os Portugueses merecia a tal cruz, já sem saber muito bem porquê.

Porém, estamos em crer que se ficou a dever àquele hábito de olhar desensibilizado para a televisão, enquanto esta mostra 30 mortos em Bagdade ou o buraco trilionário das finanças mundiais.

Fomos assim cotejando os dias até que a incerteza do sistema complexo em que se rege o quotidiano nos levou ao número 10, embuídos do espírito de quem entrega os seus honorários aos tipógrafos, mas neste caso, não levava mais do que os honorários do entusiasmo do encontro com o futuro.

Mas não havia lá nada, que não fosse a incipiência e não independência.
Um clube de amigalhaços.
Comentadores apressados, que desviam o olhar da falta grosseira sobre o adversário e citam obliterados no seu adn o conservadorismo totalitário, "se não és como eu, és contra mim".

O líder é aquele que se escrutina para não deixar nada de fora. Tem, para isso, de incluir o outro em si, fora de si, sem juízo moralista.
Abrir o sorriso de faces dispostas, sem esquecer de trazer a espada, mas esta já tem de vir ensangue, do seu próprio sangue.

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